quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Muro MARROCOS – SARA OCIDENTAL

Autoria: DR

'Eles chamam-se filhos das nuvens, porque desde sempre perseguem a chuva.

Desde há mais de trinta anos perseguem, também, a justiça, que no mundo do nosso tempo parece mais esquiva que a água no deserto'
Eduardo Galeano

Do longo processo de descolonização de África há um território que permanece desde há mais de 30 anos em luta pela sua auto-determinação, o Povo Saarauí, com o seu território, o Sara Ocidental.

Limitado a norte por Marrocos, a este pela a Argélia, a sul pela Mauritânia e a oeste pelo Oceano Atlântico, manteve-se sob o jugo da Espanha colonialista até à queda de Franco. Ainda sem a independência alcançada o rei marroquinho Hasan II deu ínicio à Marcha Verde – processo de repovoação do Saara com cidadãos marroquinos para que, no caso de se realizar um referendo à independência (nunca realizado!), a balança se inclinasse a favor do ocupante. A Frente Polisário, a guerrilha saarauí, que lutou contra a colonização espanhola, encabeçou a resistência armada contra Marrocos até 1991. Frente a frente ficaram, nas areias do deserto, os guerrilheiros da Frente Polisário e as forças marroquinas de Hassan II. O exército marroquino retirou-se para uma zona restrita do deserto, mais próxima da sua fronteira e constituiu o chamado "triângulo de segurança", que compreende as duas únicas cidades costeiras e a zona dos fosfatos. A limitá-lo, ergueu um imenso muro há mais de 20 anos, com uma longitude de cerca de 2790km (cerca de 60x a extensão do muro de Berlim), com um radar previsto de 15 km e postos de vigilância a cada 5 km. Não fosse o bastante, minou-o ao longo sua extensão.

A muralha não serve só para separar o Sara Ocidental de Marrocos, mas essencialmente para separar o terço mais árido do território saaurí do resto, abundante em recursos pesqueiros, energéticos e minérios, como o fosfato. E de resto, a história parece repetir-se, como em tantos outros momentos e noutros pontos do globo, numa lógica de segregação, e neste caso, de securatismo e pela defesa dos interesses de dominação de uma nação ou comunidade mais rica, e indiscutivelmente mais poderosa, Marrocos.

A isto, grande parte do mundo assiste sereno, uns por claros interesses directos, como Espanha e França, outros numa inércia vergonhosa. Com a quase totalidade dos países africanos e da América latina a reconhecerem a legitimidade da autodeterminação do povo Saarauí, a Europa resiste a fazê-lo, num claro desrespeito das resoluções da Nações Unidas, e mais, do povo Saarauí.

A população, essa na sua maioria permanece em campos de refugiados, no sul da Argélia, “estão no mais deserto dos desertos. É um vastíssimo nada, rodeado de nada, onde só crescem as pedras. E no entanto, nessas aridezes, e nas zonas libertadas, que não são muito melhores, os sarauís foram capazes de criar a sociedade mais aberta, e a menos machista, de todo o mundo muçulmano”. (Eduardo Galeano)

3 comentários:

João disse...

http://www.youtube.com/watch?v=g0rqLph54a0

Vale a pena ver, "The imaginary state",como lhe chamam os marroquinos...

Um abraço, João Cruz

rchatt.com disse...

Racismo dentro the "SOS racismo" !!??
O que vocês sabem sobre o Sahara ?

Polisário foi criado na Algeria para servir o interesse da Rússia de modo que estes tivessem uma saida para o atlântico na época da guerra fria.. agora A Russia não existe tal como existia, então sobressaiem os generais da Algéria interessados em apoderar-se do Sahara usando estes grupos e forçando os refujados saharianos a viver na miséria ..Quando estes refugiados seriam muito bem vindos em Marrocos,
O povo saariano vive bem e não quer separar-se da sua terra mãe. Vocês demonstram falta de respeito pelo povo marroquino que tem todo o direito em proteger a sua terra .
Marroquino, Porto.

Unknown disse...

Em 27 de Fevereiro de 1976 foi proclamada no Sahara Ocidental unilateralmente, a República Árabe Sariana Democrática. Assumindo as suas responsabilidades, o povo daquela que fora uma colónia espanhola do Norte de África respondia, assim à insólita partilha e invasão do seu território por dois vizinhos (Marrocos e Mauritânia) - iniciativa nitidamente apoiada pelo imperialismo e visando a perpetuação da exploração das suas riquezas e do controlo aero-naval da área. Reconhecida mais tarde por vários países a R.A.S.D. continua ainda hoje sobre ocupação militar das forças invasoras que tem encontrado pela frente a corajosa resistência do povo sariano e da sua frente armada (pouco armada, enfraquecida), a Frente Polisário. Milhares de refugiados sarianos, por outro lado, alvo de uma insistente tentativa de genocídio recolhem-se no deserto em zonas libertadas e em território fronteiriço argelino. Para além disso milhares de refugiados são presos e mantidos em recintos prisionais sem acusação e sem condições em desrespeito total pelos Direitos Humanos impedindo até a presença de ONGs.

Uns anos atrás num trabalho de reportagem e acompanhando uma ONG consegui circular numa boa parte deste território. Como em todos os casos deste tipo de conflito o cenário era de um lado, estacionados 100 mil militares marroquinos fortemente armados, protegidos por minas terrestres, arame farpado e um colossal muro de 2500 quilómetros que divide o território do Sahara Ocidental de Norte a Sul. Do outro lado, cerca de 20 mil guerrilheiros Saharaui, munidos unicamente de material rudimentar usado por outras tropas em outras guerras, vivendo na esperança de poder voltar a combater em nome da independência de um povo há muito esquecido pelo mundo ocidental. "Nada de fotografias" era a frase chave dos militares para nos deixar aproximar do local de concentração do seu contingente e do local onde permanecem presos, não se sabe ao certo quantos, os Saharaui. Não preciso de descrever muito mais sobre a viagem e sobre o que vi para afirmar que o que se passa ali não pode ser correcto.

Sei de que lado devo estar e o lado que escolho é sempre o lado dos povos que resistem e lutam pela sua auto determinação. Fico do lado daqueles que estão mais fracos mas que mantém a força necessária para continuar a lutar contra os muros que lhes impõem. Tenho toda a estima e respeito pelo povo marroquino mas o mesmo não o posso dizer em relação aos seus sucessivos governantes que tem ao longo dos últimos 17 anos frustrado todas as vias diplomáticas, que fecham os olhos e chegaram a participar em bombardeamentos com Napalm como foi confirmado mais tarde pela Cruz Vermelha. No terreno ainda são visíveis os destroços das poucas habitações então existentes, bem como alguns tanques de guerra das forças militares Marroquinas. Para os guerrilheiros Saharaui, esta guerra é pela liberdade e independência do seu povo, contra um governo invasor que força as suas tropas a lutarem somente em nome de uma ideologia imperialista. Todos os guerrilheiros com quem falei (à semelhança da população civil), afirmam não ter quaisquer sentimentos negativos pelo povo marroquino, mas mostram-se dispostos a lutar e sacrificar as suas vidas para que as gerações futuras possam viver livres e independentes na terra que por direito lhes pertence.