quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Declarações de D José Policarpo são um incentivo à islamofobia - Comunicado do SOS Racismo



As declarações hoje, vindas a público, de Dom José Policarpo sobre diálogo inter-religioso, em que, escandalosamente, aconselhou as jovens portuguesas a não casarem com muçulmanos, declarando: "pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Ala sabe onde acabam", são manifestamente discriminatórias e islamófobas e consequentemente inaceitáveis porque ferem o princípio da não discriminação com base na religião.
Desde o 11 de Setembro, a islamofobia tem vindo a crescer no mundo ocidental e as declarações de D.josé Policarpo enquadram-se, aliás, no que disse o responsável máximo da Igreja Católica, o Papa Bento XVI, a 12 de Setembro de 2006, na sua polémica palestra "Fé, Razão e Universidade: Recordações e Reflexão" na Universidade de Regensburg, na Alemanha, onde aproveitou para vilipendiar o islão.
Numa sociedade cosmopolita e num contexto político global onde os fluxos migratórios representam um contributo indispensável para o futuro das nossas sociedades a todos os níveis, quer demográfico, quer cultural, quer económico, etc., as declarações do Patriarca de Lisboa são a prova da cegueira racista e xenófoba dos defensores do "choque das civilizações" e um sinal da incapacidade em conviver com a diversidade e respeitar a diferença.
O SOS Racismo repudia veementemente estas declarações e exige bom senso e sentido de responsabilidade das autoridades religiosas para não sedimentarem preconceitos, alimentando ódios e legitimando racismos.

SOS Racismo

3 comentários:

Unknown disse...

Como é que o SOS racismo nunca condenou a exigência de uso de véu por ocidentais que visitam oligarquias muçulmanas é que ainda não percebi... será que se alguém, alguma vez, aconselhar o uso de preservativo na prática sexual com seropositivos o SOS racismo também irá considerar essas declarações discriminatórias?! E quantas muçulmanas casadas com não muçulmanos conhece o SOS racismo?!

Anónimo disse...

O uso de preservativo é aconselhado, desde há já muito tempo, na prática sexual com pessoas seropositivas (suponho, pelas suas palavras, HIV positivas)assim como com todas as outras. É uma questão de saúde pública (porque existem muitas outras doenças sexualmente transmissíveis, como deverá saber).
O SOS Racismo nunca se pronunciou contra este facto, porque concorda com ele! E sugerir o contrário só revela uma total falta de compreensão do que é o nosso trabalho!
O SOS conhece várias muçulmanas casadas com não muçulmanos (assim como o contrário), incluindo os casos que apareceram na imprensa na sequência das declarações do D. José Policarpo.

Anónimo disse...

O facto do SOS ter emitido um comunicado sobre as declarações de D. José Policarpo, não implica que se feche os olhos a violações de direitos humanos praticadas em qualquer parte do mundo e por qualquer ordem ou confissão religiosa. Mas a questão que o "RAF" traz à discussão, não se prende com violações de direitos humanos - o uso de véu, como a não permissão de uso de calções ou mini-saias em locais de culto, são regras aceitáveis e que devemos respeitar, porquanto, "na casa de cada, um manda quem lá está". Quanto à questão do aconselhamento de uso de preservativo numa relação sexual, só a pobreza de espírito pode aí vislumbrar um qualquer acto discriminatório; como a Ana diz, e muito bem, é uma questão de saúde, de saúde pública e, sublinho, de inteligência. Finalmente: os casos de casamentos entre pessoas que seguem confissões religiosas diversas são mais que muitos, como é do conhecimento público - o "RAF" vive, por certo, numa redoma de vidro e ainda acredita na eugenia como forma de perfeição social. O comunicado critica apenas o tom paternalista e atávico de quem, ainda a viver à razão de dogmas medievais, representa uma ordem religiosa que nunca fez nada pela emancipação da mulher e que sempre viu nela um mero objecto, (até de cobiça, como plasmado num dos dez mandamentos). As conquistas da mulher no mundo ocidental foram sempre resultado de movimentos sociais aos quais a Igreja sempre foi avessa. Por outro lado, este tom paternalista de querer proteger o "rebanho", reduzindo os "outros" à condição de agente negativo da vivência social é inadmissivel. Parafraseando o Ricardo Araújo Pereira, só faltou ao D. Policarpo dizer "e não jantem com judeus, que são demasiado avarentos e não pagam a conta, nem vão ao cinema com amish, que estes ainda vêem os filmes a preto e branco"...