sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ENCONTRO ENTRE ASSOCIAÇÕES SOS RACISMO E SIEMBRA – ILHAS CANÁRIAS


No dia 6 de Novembro de 2008, uma delegação do SOS RACISMO reuniu-se em Las Palmas, nas ilhas Canárias, com a Associação SIEMBRA.

O objectivo principal é estender uma ponte no que diz respeito à solidariedade internacionalista, mais concretamente o trabalho e participação em comunidades indígenas na Guatemala. Foi esse, aliás, o resultado final do encontro, em que a partir daí, ambas as associações trabalharão em conjunto com esse objectivo, estando também as portas abertas para outro tipo de colaboração.
No debate partilhámos a nossa visão crítica do mundo em que vivemos, desde as causas do racismo actual, que se baseiam em interesses económicos de dominação estratégica de recursos, força de trabalho, etc. Discutimos políticas de imigração na Europa, as causas das deslocações massivas de pessoas de um país para outro, o empobrecimento dos países às mãos de multinacionais e governos cúmplices. Percebemos fundamentalmente que os problemas ligados à imigração não se resolvem só na origem ou só no destino, uma vez que contra todas as fronteiras, o planeta não deixa de ser esse lugar redondo que pertence a todas as pessoas. O que se conversou foi o ideal para percebermos que estamos de acordo nos princípios críticos essenciais e na visão da solidariedade para então se abrir a ponte para que o SOS RACISMO passe a ser um veículo que alargue o trabalho desta associação nas comunidades indígenas da Guatemala. Mas para melhor percebermos o que se pretende aqui, passamos a apresentar a associação canária SIEMBRA.

TRANSFORMAÇÃO E SOLIDARIEDADE

Oficializada em 1993, esta associação mantinha desde já há uns anos um trabalho presente como brigadistas internacionais nas Comunidades de Povoação em Resistência, na Guatemala. Após duas décadas de resistência a um exército agressor, fugindo a uma política etnocida, estas comunidades aparecem à luz pública apoiadas por largas dezenas de voluntárias que serviam essencialmente de escudo humano a comunidades desprotegidas. Voluntárias, sobretudo, do Estado Espanhol, onde se incluíam algumas das fundadoras da associação SIEMBRA.
Assinados os Acordos de Paz entre exército e guerrilha em 1996, começa uma nova etapa no trabalho entre as brigadistas e as comunidades indígenas. E a partir daqui se pode começar a entender bem o tipo de trabalho da associação - que marca uma postura crítica às "ajudas humanitárias"e ONG's tradicionais - baseado sobretudo numa interpretação discutida e clara da palavra solidariedade e que se resume na tentativa de criar situações de igualdade.
Dentro de um marco de colaboração entre uma associação vinda do mundo ocidental e outra do mundo dito "terceiro", existe algo muito importante a ressalvar e que constitui um pilar essencial: nós não nos deslocamos à Guatemala para salvar ninguém. O trabalho solidário é recíproco, enquanto voluntárias, as pessoas aprendem e partilham. É dentro dessa filosofia que estão marcados os princípios básicos do trabalho com as comunidades maias.

SIEMBRA parte de um princípio no qual a solidariedade nos iguala, enquanto que a caridade rebaixa e humilha; por ser horizontal ela levanta as oprimidas e abre possibilidades mais verdadeiras de unir esforços e gerar sabedoria mútua para transformar as relações desiguais que aí se podem gerar.
Desde esse princípio, o trabalho nas comunidades indígenas começa por um processo de observação e convivência, pois não se pode chegar do mundo ocidental e cair no erro de impor o que para nós são necessidades, sem ter presente um diagnóstico mais real das necessidades das mesmas. Quer dizer, enquanto brigadistas a nossa primeira tarefa será aprender. Aí, depois de uma ideia mais clara começar a surgir, nascem propostas de projectos que poderão beneficiar as pessoas, projectos esses que são sujeitos à discussão popular e à aprovação, ou seja, a democracia real funciona sempre respeitando os costumes e hábitos culturais.
Uma vez aprovado (algumas vezes não o são) o projecto estabelecem-se relações de transparência, onde questões monetárias são controladas por ambas as partes; relações de co-responsabilidade onde as voluntárias da associação evitam relações paternalistas, assistencialistas e etnocêntricas. Aliás, à postura não etnocêntrica junta-se outro princípio que é o do respeito à diversidade cultural, nunca julgado nos momentos em que o choque cultural nos possa incomodar e mantendo uma postura respeitadora com hábitos e tradições, mas estando também atentas às manifestações culturais que se baseiam em pilares que criam desigualdades. Um dos casos é a crítica a situações de desigualdade de género, mas sempre com a postura não paternalista e não etnocêntrica de que chegamos às comunidades para ensinar-lhes o que são os direitos humanos.
Para concluir, muitas das voluntárias que estiveram na Guatemala, afirmam ter aprendido mais nas suas experiências do que propriamente ter ensinado. E é isso que o SOS RACISMO quer também ajudar a fazer, abrir as portas a este lugares às pessoas que se sintam com vontade de beber de outras culturas.

O PAPEL DO SOS

A partir daqui, através do SOS RACISMO, será possível deslocar-se às comunidades indígenas na Guatemala. Da nossa parte responsabilizarmo-nos pela formação e coordenação no terreno das voluntárias.
Antes da partida qualquer pessoa será informada da situação política, histórica e social do país e das comunidades em questão. Será também importante discutir e estar informada daquilo a que se pode chamar um código de conduta dentro das comunidades. São condições essenciais de preparação para qualquer pessoa, sendo que em todos os casos as pessoas estarão sempre na Guatemala com alguém responsável, sempre que isso seja possível.

Assim, informamos o seguinte:


- Correio electrónico para contactos: sosguatemala@gmail.com
- Em finais de Janeiro e durante o mês de Fevereiro estará um membro do SOS RACISMO na Guatemala a coordenar um projecto. O blogue do SOS Racismo Porto terá aqui um espaço privilegiado de comunicação numa espécie de diário. Na barra lateral ficará também um link para essas entradas.

Ficamos à vossa espera, dos vossos comentários e sugestões.

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