segunda-feira, 16 de março de 2009

Crianças ciganas têm aulas em contentor separadas das outras


A Junta de Freguesia de Barqueiros, no concelho de Barcelos, vai formalizar, esta segunda-feira, o pedido de uma reunião urgente com a Directora Regional de Educação do Norte.

Na escola básica de Lagoa Negra, em Barqueiros, foi decidido colocar 17 alunos ciganos num contentor no recreio do estabelecimento de ensino, separando-os assim dos outros estudantes.
Os alunos, com idades entre os 9 e os 19 anos, frequentam desde o ensino básico até ao secundário. A Junta de Freguesia não aceita esta situação.
O secretário, António Cardoso, afirma estarmos perante uma atitude discriminatória e quer conhecer por isso as razões da Direcção Regional de Educação do Norte já que o agrupamento escolar não conseguiu justificar esta opção.

O SOS Racismo Porto está já a tentar entrar em contacto com as instituições envolvidas e já prestou declarações à comunicação social. Em breve teremos mais noticias sobre o assunto.

A noticia no JN:

"A EB1 de Lagoa Negra, em Barqueiros, Barcelos, colocou no presente ano lectivo 17 alunos de etnia cigana, entre os 9 e 19 anos de idade, num pré-fabricado em pleno recreio, separando-os dos restantes estudantes.
Os pais e alunos falam de discriminação. A Junta de Freguesia quer queixar-se à DREN. O Agrupamento escolar não comenta.
A turma é formada por alunos de etnia cigana de várias escolaridades, a maioria deles chumbados no ano anterior, tendo este sido um critério de selecção. O grupo é seguido por dois professores. "Isto está muito mal, nunca vi disto. Como se pode juntar crianças que nem sabem escrever o nome com jovens que estão quase a entrar no ensino superior?", reclamou João Martinho, que tem dois filhos a frequentar o estabelecimento.
No início, os pais acharam a situação "estranha", mas acataram ao serem informados que era "um método em que se aprende melhor", segundo um "novo projecto educativo".
Porém, a indignação cresce de dia para dia. E há estudantes tristes por deixarem amigos, o ritmo e rigor da EB 2,3 Abel Varzim, sede do agrupamento escolar. "Porque fui obrigada a sair da Abel Varzim se não fui só eu que reprovei?", criticou uma.
A responsável do café vizinho também repudiou o cenário. "Os meus filhos e netos estudaram cá com rapazes e raparigas de etnia cigana e nunca houve problema. Embora no recreio brincassem cada qual no seu grupo, nas aulas juntavam-se e foi bom para a formação de todos", disse Maria Miranda Machado.
Um cliente foi mais longe: "Tenho filhos a estudar e, se andassem aqui, acusava a escola de racismo. O cigano é um ser humano igual aos outros, onde já se viu tal coisa em pleno século XXI?".
O secretário da Junta de Freguesia define o projecto como "um 'apartheid', um gueto". "É desagregador, discriminatório, um péssimo exemplo. Nada tem de pedagógico ou dos critérios do Ministério da Educação. Não se sabe quem anda no 3º, 4º, 5º, 6º ano…", notou António Cardoso, continuando: "Estamos a pedir formalmente que nos dêem informações sobre o porquê desta opção. Se a escola e o agrupamento nada disserem apresentaremos queixa na DREN (Direcção Regional de Educação do Norte)".
O JN tentou contactar várias vezes a direcção do agrupamento, mas ninguém quis comentar. Tentou fazê-lo ainda ontem com responsáveis da EB1 de Lagoa Negra, mas foi bloqueado à entrada. Alguns alunos vieram para o recreio às 15.30 horas, no habitual intervalo da tarde, mas foram chamados e voltaram para o interior do contentor. Foram então corridas as persianas e lançados insultos à equipa do JN.
Que havia afinal a esconder? Logo depois saiu para o carro uma docente do edifício antigo, a ironizar: "Tem de vir cá a polícia". E poucos minutos volvidos chegou o professor de música, explicando que ia dar aulas de enriquecimento curricular, mas não aos alunos de etnia cigana, "não pediram isso (no contrato)". "

NUNO PASSOS in JN

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