sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Muro OSTRAVANY, ESLOVÁQUIA

© AFP


Em Ostravany, uma pequena vila na Eslováquia, a edilidade local entendeu que a forma mais simples e eficaz de abordar a tensão existente entre os seus residentes, seria construir um muro – um muro que separasse a zona habitada pelas cerca de 1.200 pessoas de etnia cigana dos restantes moradores.

O processo de aprovação de construção do muro – 150 metros de comprimento, 2 metros de altura – iniciou-se em 2008 e consolidou-se no passado mês de Outubro, isolando a zona onde a comunidade cigana reside, criando um gueto efectivo ou, como os próprios ciganos assim o apelidam, uma espécie de “zoo humano”; o complexo envolve ainda a construção de um jardim-de-infância, uma escola primária e um centro social exclusivos para a comunidade cigana. As autoridades locais justificaram a medida, tomando como certas as acusações de que a população cigana é alvo – prevenir o roubo de fruta dos jardins privados dos vizinhos...

Exemplo desta visão são as explicações dadas por Stefan Kuzman, deputado eleito pela União Democrática e Cristã Eslovaca (SDKÚ), que defenda a opção da construção do muro numa frase lapidar: “É um acto desesperado das pessoas que não se conseguem proteger e para quem o Estado não consegue assegurar a necessária protecção”. Como se vê, ainda há quem ache que os ciganos não são humanos, mas meros bárbaros, delinquentes …

Certo é que, apesar de maioritária na vila, a comunidade cigana não participa na vida pública: quase todos os seus membros estão desempregados, como sucede por toda a Eslováquia, onde existem mais de 600 comunidades a viver na miséria, sem electricidade, água potável ou sistema de esgotos.

Em vez de se procurarem soluções que estimulem a convivência entre os habitantes do município, que proporcionem igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, que disponibilizem verdadeiros instrumentos de inserção social e que promovam o respeito, a solidariedade e o civismo, as autoridades locais acabaram por dar a mão à intolerância, ao preconceito e ao racismo, concretizando em tijolos e cimento a forma como a Europa tem tratado a etnia cigana: ostracizando-a da vida pública e negando-lhes o estatuto de cidadãos de pleno direito.

A ideia não é peregrina, nem o exemplo um caso isolado (até nós por cá já tivemos episódios semelhantes, como aquele vivenciado pela comunidade cigana de Montemor-o-Novo e denunciado pelo SOS em 2007). E o que é mais assustador é que a tendência é sufragada pela maioria da população: em 2008, uma sondagem revelava que 82% dos Eslovacos não gostariam de ter um cigano como vizinho.

O que infelizmente este caso eslovaco não possui é o mesmo nível de consideração e mediatismo dado a outros muros semelhantes, demonstrando à saciedade aquilo que acima se expôs: quando os ciganos não merecem estatuto de cidadãos, porque razão os muros que os segregam teriam de merecer honras de telejornal?

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